Em seu quarto disco de nova formação, o Diante do Trono mostra que quer seguir tentando. No entanto, vez ou outra ainda olha para trás, na procura de legitimar e fornecer, através dos novos arranjos, uma ponte entre o “antigo” e o “novo” Diante do Trono. Vale observar a quantidade de regravações recentes para não ter nenhuma dúvida. A fase da banda entre os discos Exaltado (1999) e Ainda Existe uma Cruz (2005) foi, de fato, muito importante para estabelecer o cerne criativo de Ana Paula Valadão, sua líder. Transitando entre discos conceituais, espontâneos longos e sonoridade pomposa e complexa, o fim do movimento gospel se viu atrelado ao surgimento e auge de uma das bandas mais bem-sucedidas do meio evangélico brasileiro.
Enquanto a banda se aprofundava em discos anticlimáticos que, teimosamente, parecia incentivá-los a ter delírios de grandeza, as mudanças musicais recentes colocaram, diretamente, o grupo em uma necessidade de afirmar características que nem sempre foram o principal mote de sua música. Hoje o Diante do Trono quer ser moderno, jovem, renovado, gringo e comercial sem ter, claramente, estrutura legítima para isso. O Diante do Trono, claro, é uma banda que nunca foi e sequer conseguiu ser modesta. Pretensiosidade sempre foi marca-registrada do conjunto, e no seu décimo sétimo disco nada é diferente. O álbum não é centrado em muitas regravações. Apresentando um repertório majoritariamente inédito, procura passear entre a sonoridade pop assumida nos últimos anos a detalhes que marcam o Diante do Trono clássico. Dentro desta missão, o grupo buscou inserir elementos messiânicos, expostos nas letras, além dos espontâneos. A gravação em Israel, inclusive, faz um gancho com todo o teor temático do disco. Nada simples para uma banda que quer, a cada obra, soar acessível.
O arranjo de cordas, presente em grande parte do repertório, reforça tudo o que é proposto. Os primeiros minutos de Medley Israel e o som percussivo e acústico de Eu Sou mostra uma banda que, mesmo em uma estrutura reduzida, tenta se desdobrar em novos e criativos sons. O outro lado do álbum, no entanto, não se identifica com esta intenção. O refrão de A Batalha É do Senhor, por exemplo, apenas mostra a tentativa inocente até demais de "estar na tendência" e usar de simples fraseados.
É preciso compreender o processo de renovação da música e de seu público. Artistas vêm e vão, e cada um se adéqua e comunica com os ouvintes de seu tempo. E mais importante ainda: Com o advento da internet, esta identificação é cada vez mais fragmentada e específica. O Diante do Trono tenta, de todas as formas e com pouca naturalidade, dialogar com diferentes segmentos. Tudo é resumido na famosa frase "abraçar o mundo com as pernas".
A produção de Vinícius Bruno mostra bem o que o Diante do Trono representa, no cenário musical de 2015. Seu som expõe os desgastes criativos do grupo. Não é intenso e prolífico, pouco impressiona. Embora não soe tão negligente como o anterior Tu Reinas, dificilmente gera alguma expectativa de que, um dia, a alma artística do Diante do Trono grite e a banda novamente encontre seu equilíbrio estético.
Fonte:www.supergospel.com.b
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