quarta-feira, junho 01, 2016

Retratos da leitura no Brasil ontem e hoje

Publicou-se há dias, o recenseamento do Império, do qual se colige que 70% de nossa população não sabem ler. (…) A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler, desses uns 9% não leem letra de mão. 70% jazem em profunda ignorância.”

A declaração é de 15 de agosto de 1876, mas, infelizmente, o retrato descrito por Machado de Assis não fica muito longe da realidade que vivemos agora. Hoje, mais de um século depois da fala do escritor, 92% da população não é considerada proficiente na leitura e na escrita tanto de textos como de tabelas e gráficos. Os dados são da pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada no início de 2016.


Estou contando tudo isso para vocês porque, ontem, eu acompanhei o lançamento da quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que entrevistou mais de 5.000 pessoas para entender melhor os hábitos de leitura da nossa população. Entre muitos achados, os pesquisadores descobriram que 84 milhões de brasileiros (somos pouco mais de 200 milhões) não completaram ou nem começam um livro nos três meses anteriores às perguntas. Ou seja, lemos pouco.

E, quando lemos, poucas vezes são livros de literatura. Entre os 18 primeiros livros citados como a última leitura dos entrevistados figuram principalmente livros religiosos, de autoajuda e best-sellers, como a Bíblia, O Monge e o Executivo, de James C. Hunter e Muito mais que cinco minutos, da youtuber Kéfera Buchmann. Não é citado nenhum clássico literário.  Além disso, em 2014, livros como os didáticos tiveram o triplo de vendas em comparação a biografias, por exemplo.

Mas o que eu achei mais interessante de tudo o que foi exposto foi perceber que nossos hábitos e deficiências relacionados à leitura se mantiveram ao longo das últimas décadas. Quem me ajudou a ver isso foi a Marisa Lajolo, pesquisadora e crítica literária da Unicamp. Um dos exemplos que ela deu foi do período do Império, época em que viveu Machado de Assis. Naquele tempo, a obra mais vendida também foi um livro didático, o Lições de Coreografia Brasileira, de Joaquim Manuel de Macedo, com 3.000 exemplares. As vendas de um livro literário, nesse caso, Memórias Póstumas de Brás Cubas, do próprio Machado, foram um terço disso. Vê semelhanças? Pois é…

Saí do lançamento com mais perguntas do que certezas. Por que não estamos criando o hábito da leitura nas pessoas? Por que lemos pouca literatura? Qual é exatamente o problema que a rara presença da literatura causa? Por que, mesmo entre a população que foi alfabetizada, muitos não conseguem ler textos complexos?
CONFIRAM O RESULTADO AQUIAQUI

E vocês, o que acham sobre o assunto? Deixem suas opiniões aqui nos comentários!

Até o próximo post!

Anna Rachel

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