quarta-feira, novembro 02, 2016

“Sou cristão e a favor da ocupação das escolas”

No ano passado (2015), iniciou-se no país uma onda de ocupação de escolas. Estudantes paulistas lideraram o movimento, ocupando escolas estaduais em protesto contra a reorganização das unidades da rede de ensino, que pretendia garantir que cada escola fosse responsável por apenas um nível de ensino.

O movimento conquistou considerável apoio da população, do Ministério Público e da Defensoria Pública, e a reformulação proposta pelo governador Geraldo Alckmin foi duramente criticada por especialistas, que afirmavam que os benefícios prometidos não poderiam ser comprovados.

Para evitar o desgaste político, principalmente depois de tentar conter o movimento com ações brutais por parte do aparato policial contra os adolescentes, o governador voltou atrás, anunciando a suspensão, por um ano, do projeto de reorganização da rede estadual de ensino. Não foi necessário muito tempo para que o governo descumprisse a promessa, violando mais uma vez a garantia do direito à educação. De acordo com um levantamento feito pela Rede Escola Pública e Universidade, já foram fechadas 2800 salas em todo o estado. O funesto plano do governo de implementar silenciosamente a reorganização despertou novamente os estudantes para que retomassem o movimento de ocupação das escolas. E desta vez, os secundaristas mobilizaram-se também em torno das escolas técnicas estaduais, trazendo à pauta a precarização dessas escolas e o desvio da verba destinada para a compra de merenda. Ao questionar o desvio de verbas, os alunos estão se apropriando do debate sobre políticas públicas e recursos para a educação.

A ocupação das escolas tornou-se num mecanismo de luta. Os alunos se apropriam das escolas no afã de fazerem ouvir suas vozes, antes completamente desconsideradas na discussão sobre políticas públicas educacionais. Com isso, eles inauguram uma nova era de convivência na escola, vislumbrando novas possibilidades educativas, reinventando a relação política-escola, repensando o papel da escola como lugar em que os estudantes participem de sua gestão e se apropriem, como de direito, dos recursos a eles destinados, tais como livros, espaços, merenda, etc.

Como seguidores de Cristo, penso que deveríamos apoiar esta onda de ocupação que agora se espalha por todo o Brasil, engrossando o coro de estudantes que não se conformam com os rumos que têm sido dados à educação no país.

Quem se refere a eles como baderneiros e vagabundos, como tenho visto nas redes sociais, certamente se referiria a Jesus se o visse invadir e ocupar o templo em Jerusalém, expulsando os cambistas e permitindo às crianças transitarem livremente. Segundo o mestre nazareno, era delas que Ele recebia o genuíno louvor.

Ver os estudantes exercendo sua cidadania enquanto protestam contra os desmandos do governo me enche de esperança. Estamos assistindo ao emergir de uma geração que redescobriu o idealismo abandonado pela geração de seus pais, voltando a acreditar que um mundo mais justo não apenas é possível, mas absolutamente necessário.

Por essas e outras, meu total apoio ao movimento de ocupação das escolas, torcendo para que um dia tenhamos um movimento análogo de ocupação das igrejas.

Assista abaixo a fala emocionante da aluna Ana Júlia em favor da ocupação das escolas:
Hermes C. Fernandes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comments System

Disqus Shortname