O Poeta que a escola não viu é a mais nova Obra Literária do escritor João Matos. Residente no interior da Bahia, no município de Caldeirão Grande, o autor é professor da rede municipal e na referida obra, retrata suas experiencias de escola enquanto aluno e posteriormente como professor.
O livro conta a historia de um menino que sonhava ser escritor e professor e teve seu sonhos preso nas jaulas de aulas que preocupadas com o currículo formal esquecem de usar o potencial dos alunos em favor do processo de ensino e aprendizagem.
Sempre sonhei com uma educação com a cara da gente e meu sonho por
vezes parecia tão longe. O tempo passou e pisando no chão da escola, conhecendo
de perto nossa realidade, tão desprezada por uma educação descontextualizada, fortalecia
em mim o desejo de fazer florescer os sujeitos sociais escondidos nas gaiolas
educacionais historicamente construídas.
Chegou
o momento de romper com o modelo educacional excludente e juntos construirmos A
EDUCAÇÃO QUE A GENTE QUER, DO JEITO QUE A GENTE É. Neste contexto, professores,
gestores, alunos, pessoal de apoio, comunidade escolar são atores e autores de
um novo modelo de educação tendo as “gentes” como referencial para alavancar
nossa bandeira.
São
as nossas histórias, nossos saberes, nossa cultura que precisam permear o
currículo escolar dando valor e significado a escola que temos e a escola que
queremos construir.
Em
nossas andanças pedagógicas, seja no chão da escola ou na estrada dela, precisamos
descolonizar mentes e garantir a formação plena de nossos alunos e alunas.
Somente professores apaixonados podem fazer isso. E paixão, embora
na concepção de muitos seja algo efêmero, na minha visão epistemológica ela é
intensa, duradoura e deixa marcas profundas em alguém.
Paixão, do latim passio – onis, é um termo
utilizado para expressar um forte sentimento em relação a pessoa, objeto ou
tema. Ela se manifesta através de uma forte e intensa emoção, entusiasmo e
desejo.
Eu
me apaixonei pela escola. Passei a ter prazer nela, no dia em que descobri que
já sabia ler. Saía pelas ruas da cidade lendo o nome de todas as casas
comercias. Como era prazeroso ler o que ia encontrando pelas ruas!
A
escola começou a ganhar contornos diferentes à medida que aprendi a ler e a
escrever.
Minha nova professora,
iniciava a aula cantando tantas canções lindas: Felicidade foi-se embora e a
saudade no meu peito, ainda mora... Era tão bonito ver aquele coral soltar a
voz e cantar com a alma. A professora deixava transparecer sua paixão pela
educação e nos incentivava o tempo todo, perguntando o que gostaríamos de ser
quando crescêssemos. Ela ainda dava indicações: -João Matos, tem jeito para
jornalista!
Meu coração se alegrava,
alguém via em mim, potencial! Aos poucos aquele menino Joaozinho que não era
capaz de aprender ia ficando para trás. Um novo homem começava a nascer em mim.
Mais confiante, mais ousado e mais feliz.
No dia seguinte, a aula
começava com a canção: Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou... Que saudades desse tempo?
-Alguém aqui já viu um
sabiá? – Euuuuuuuuuuuuuuuu! Gritava a turma entusiasmada. A Professora iniciava
contando a história do sabiá, por que ele havia fugido da gaiola e não voltou
mais? Podemos prender os animais? Todo mundo opinava e trazia outras
histórias. A Sineta tocava e a gente nem
percebia!
Aquela professora era
diferente de todas! Sua prática pedagógica atrelada a experiência do dia a dia
da sala de aula ia dando sentido ao seu fazer pedagógico de maneira que ela
deixava transparecer que as avaliações refletiam não só o desempenho dos
alunos, mas o seu trabalho ali conosco. Então era preciso, que todos
aprendessem e que toda aprendizagem construída fosse significativa.
Eu quero desaprender para
aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções,
recuperar sentidos. (Rubem Alves).
A professora todos os dias dizia-nos
que aprendia com todos os alunos com os quais já haviam passado por sua vida. A humildade
estampada no seu discurso, tocava-nos e nos fazia perceber que a escola é um
lugar de encontros, de relacionamentos e acima de tudo, de muita afetividade.
Aquela velha concepção do professor, como detentor do saber, caia por terra, pois,
no discurso da nossa professora, todos nós tínhamos muita inteligência,
conhecimento e deveria ser compartilhado.
Um certo dia, a professora
pediu que nós escrevêssemos um poema. O tema era livre e cada um tinha
liberdade para construir seu texto a partir do seu sentimento naquele dia.
–Olhe para dentro de você, imagine um lindo lugar, e escreva sobre; dizia a professora.
Todos os textos foram lidos pela professora durante a semana. E a professora
pedia-nos para escolher um texto para ser trabalhado. O poema escolhido foi o
meu.
Cheguei em casa contando a
novidade aos meus pais, irmãos e colegas! Minha pai dizia: -Esse menino vai ser
um artista!
Quem ama, educa, diz o nosso
grande mestre Icami Tiba. Educar é função da família, professor ensina, diz
alguns especialistas. Mas, não posso conceber ensino sem educação. A medida que
o processo de ensino-aprendizagem se desenvolve é preciso educar as pessoas
para isso. Se a família vem falhando no seu papel de educar, a escola não pode
se omitir. Quantas vezes é preciso parar o conteúdo para simplesmente exortar a
turma sobre a responsabilidade que cada um deve ter com o seu aprendizado?
Estamos educando. Todas as vezes que organizando as cadeiras, monitoramos a
entrada e saída dos alunos, reprendemos um comportamento inadequado,
estabelecemos os acordos, estamos educando nossos alunos e alunas. Educação e
ensino são processos indissociáveis. Um depende do outro. Destaca o autor.
POR @CaldeiraodoPovo
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