Um novo artigo publicado nesta sexta (22) pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) fez a avaliação mais completa do conjunto de características da microcefalia causada especificamente pelo vírus zika, baseada em 35 bebês brasileiros.Os dados mostram que mais de 70% das mães de filhos com microcefalia ligada à infecção pelo zika apresentaram vermelhidão entre o primeiro e segundo trimestre de gestação. Das crianças, 71% apresentam microcefalia severa –perímetro cefálico muito reduzido.
O artigo foi assinado por pesquisadores de diversas instituições brasileiras e pode ajudar a separar os casos de microcefalia por zika dos que têm outras causas.EXCESSO DE PELEUm dado importante do estudo é que cerca de um terço das crianças nasceu com excesso de pele no crânio. Isso indica que o feto sofreu um estresse ainda no útero da mãe que interrompeu o seu desenvolvimento normal, explica a médica e geneticista da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro Dafne Horovitz, uma das autoras do estudo.
Outras complicações notáveis relatadas pelos pesquisadores são uma doença articular (artrogripose), pé-torto e problemas oftalmológicos (como um globo ocular anormalmente pequeno).A ideia de fazer essa avaliação extensa foi capitaneada pela Sociedade Brasileira de Genética Médica.O trabalho foi feito com 37 crianças que nasceram com microcefalia. Duas foram excluídas porque a origem da condição não era ligada ao zika: uma tinha uma alteração genética e a outra sofreu com a infecção por citomegalovírus –uma das causas "clássicas" da má-formação.
A condição geralmente reflete subdesenvolvimento cerebral: o órgão não cresce e há uma consolidação precoce do crânio. Entre os 27 bebês que passaram por exames de neuroimagem, todos apresentaram alterações como calcificações, alargamento dos ventrículos (cavidades do cérebro) e alteração no padrão de migração dos neurônios (importantes para a adequada formação do cérebro).
Entre os achados neurológicos estão alterações de tônus muscular (37% dos casos), reflexos anormalmente elevados (20%), irritabilidade (20%), tremores(11%) e convulsões (9%).A análise do líquido cerebrospinal (que banha o cérebro e a medula) ainda não ficou pronta e servirá de "atestado definitivo" de que o vírus esteve no sistema nervoso dos bebês, diz o artigo.Os cientistas ainda continuarão incluindo novos casos na análise, relata Dafne, mas há dificuldades. "É difícil detectar microcefalia com os instrumentos que a gente tem. Quando o bebê nasce, só se marca 'sim' ou 'não' na questão sobre malformações. A gente depende da descrição dos médicos. Na declaração de nascido vivo não tem um espaço para o perímetro cefálico."
Fonte: Folha de São Paulo
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