"Não sabemos como a zika interage com células humanas, mas o estudo
sugere que existam diferenças na superfície do vírus que controlam como a
zika se liga a células-alvo", disse Richard Kuhn, diretor do Instituto
Purdue de Doenças Infecciosas, Inflamações e Imunologia, que liderou a
pesquisa, em entrevista ao UOL por e-mail.
"Este mapeamento tem o potencial de explicar como o vírus é transmitido
e como ele se manifesta como doença", afirmou. "A estrutura do vírus
mostra regiões dele que poderiam ser alvo de um tratamento terapêutico,
usadas para criar uma vacina eficaz ou para melhorar a nossa capacidade
de diagnosticar e distinguir a infecção por zika das de outros vírus
relacionados".
A zika é um flavivírus, da mesma família da
dengue, do vírus do Nilo Ocidental, da febre amarela, da encefalite
japonesa, todos eles com características comuns. Mas os americanos
descobriram regiões dentro da estrutura do vírus da zika diferentes das
dos 'irmãos'.
Estas diferenças podem explicar por que a zika
afeta o sistema nervoso central e sua relação com a microcefalia (quando
a cabeça do bebê nasce menor do que o normal devido à má-formação do
cérebro) e com a síndrome de Guillain-Barré (que causa paralisia
temporária).
O grupo de cientistas mapeou a estrutura do vírus
da dengue em 2002 e, a do vírus do Nilo Ocidental em 2003. Desta vez,
estudou o vírus da zika isolado de um paciente infectado na Polinésia
Francesa – a região viveu uma epidemia de zika em 2007. O vírus que
circulou nas ilhas do Pacífico é o mesmo que se dissemina agora nas
Américas.
E quando teremos a vacina?
Com a descoberta, a equipe crê que o passo para a criação de uma vacina está mais próximo.
"O vírus da zika parece ter menos diversidade entre suas cepas do que
vemos para a dengue, o que torna o processo de desenvolvimento de
vacinas mais fácil. Estou cautelosamente otimista, mas há uma série de
incógnitas sobre o vírus e, portanto, poderia haver obstáculos
imprevistos no caminho. Além disso, os ensaios clínicos de vacinas é um
processo que consome tempo", disse Devika Sirohi, pesquisadora da
equipe.
Para Michael Rossmann, também autor do estudo, em
até dois anos deve haver uma vacina disponível, já Kuhn espera avanços
mais demorados.
"Há muitos grupos que buscam várias estratégias para uma vacina para o
vírus da zika. É provável que alguns deles avancem para testes em
animais neste verão e em um ano devemos ter ensaios clínicos com
humanos. No entanto, vai levar tempo para desenvolver uma vacina contra a
zika até ser licenciada e disponível para o público".
O que que a zika tem?
O mapeamento do vírus da zika foi feito por meio de uma técnica de
microscopia crioeletrônica, que consiste no congelamento de uma
amostra analisada por um potente microscópio eletrônico. Foi observado
que proteínas e açúcares compõem a superfície do vírus da zika e, que,
juntos, podem facilitar a atração do vírus por certas células humanas.
A
estrutura de vírus da zika é em geral muito semelhante à de outros
flavivírus como vírus da dengue, por exemplo. No entanto, a principal
diferença é a região onde carboidratos são ligados à glicoproteína na
superfície destes vírus. Esta região está exposta na superfície do vírus
e pode ser importante para a ligação do vírus às células hospedeiras" Devika Sirohi
Para ficar mais claro, imagine o vírus da zika sendo um adulto tentando
atrair uma criança inocente com um doce. A criança é a célula humana
que estende a mão para pegar a guloseima mas, em seguida, é aprisionada
pelo vírus, que pode iniciar a infecção da célula.
De acordo com
os pesquisadores, o local da glicolisação pode influenciar a ligação e a
infecção do vírus com alguns tipos específicos de células.
Embora haja perspectivas otimistas, o que nenhum dos cientistas ainda
garante é que uma vez tendo o zika, o infectado estará imune à doença.
Eles divergem quanto essa possibilidade. Sirohi e Rossmann dizem que não
há indícios que comprovem a imunidade. Já o líder da pesquisa vê
evidências de que isso ocorrerá entre os infectados.
Mundo tenta decifrar a zika
No Brasil, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sequenciaram o genoma da zika para tentar compreender como o vírus atua no organismo humano para a criação de vacinas e terapias.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 96 companhias e institutos trabalham atualmente na busca por soluções para o vírus da zika. 41 países registram
casos de zika desde 2015, quando o Brasil alertou para uma associação
entre o vírus da zika e lesões neurológicas. A maioria das áreas está
nas Américas do Sul e Central. Segundo balanço da OMS, oito países
registraram aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré.
Fonte:Uol
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