O Supremo Tribunal Federal (STF) homologou, nesta
terça-feira (15/03), o acordo de delação premiada do senador Delcídio do
Amaral, oficializando, assim, os depoimentos prestados pelo político petista à
força-tarefa da Operação Lava Jato.As declarações, que causaram um terremoto
político em Brasília quando adiantadas pela revista IstoÉ no início do mês, citam importantes nomes da
política petista e também da oposição. Entre eles, a presidente Dilma Rousseff,
o ex-presidente Lula e o senador Aécio Neves.
Além do conteúdo
dos depoimentos, prestados entre os dias 11 e 14 de fevereiro, o documento
revela que o senador terá que devolver 1,5 milhão de reais aos cofres públicos
por seu envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
Confira abaixo
alguns trechos da delação:
Dilma e a Lava Jato
Em seus
depoimentos, Delcídio afirmou que Dilma Rousseff tentou "alterar o rumo da
Operação Lava Jato" a fim de salvar da prisão alguns empreiteiros
investigados pela Polícia Federal. As três tentativas, porém, foram
fracassadas, diz a delação.
"É
indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, e da própria presidenta Dilma Rousseff no sentido de tentar
promover a soltura de réus presos no curso da referida operação", afirma o
documento.
Segundo Delcídio, a
presidente nomeou o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) com o intuito de evitar a punição dos executivos Marcelo
Odebrecht, da empreiteira Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, da Andrade
Gutierrez.
"Dilma
solicitou que Delcídio conversasse com o desembargador Marcelo Navarro, a fim
de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo e Otávio", diz
o documento.
Antes disso, Dilma
tentou um acordo com o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF, e com o
presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Nelson Schaefer – ambos
sem sucesso, segundo a delação.
Dilma e Pasadena
A presidente também
foi citada por Delcídio a respeito da compra superfaturada da refinaria em
Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, que levantou muitas contradições nos
anos seguintes.
À época como
presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma "tinha pleno
conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de Pasadena e de tudo
que esse encerrava", diz a delação.
O senador afirmou
ainda que conhece Dilma há mais de 10 anos, e que "sabe que a atual
presidente da República é detalhista e centralizadora". "Delcídio
esclarece que a aquisição de Pasadena foi feita com o conhecimento de todos.
Sem exceção", concluiu.
Lula e Bumlai
Segundo a delação,
Delcídio contou que Lula mandou comprar o silêncio do ex-diretor da área
internacional da Petrobras Nestor Cerveró, investigado e condenado pela Lava
Jato.
O ex-presidente
"pediu expressamente" ao senador que ajudasse o pecuarista José
Carlos Bumlai, que por sua vez estaria implicado nas delações de Cerveró e de
Fernando Baiano. "No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à
família de Cerveró com recursos fornecidos por Bumlai", diz o documento.
Em conversa com
Lula, Delcídio falou que, com Bumlai, "seria difícil falar, mas que
conversaria com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha uma boa
relação".
A primeira remessa
foi de 50 mil reais, entregue a Delcídio pelo filho de Bumlai, e depois
repassada em mãos a Edson Ribeiro, advogado de Cerveró. "O total recebido
pela família de Nestor foi de 250 mil reais", revela a delação.
Sobre José Carlos
Bumlai, Delcídio afirmou que o pecuarista "goza de total intimidade com
Lula, representado, de certa maneira, o papel de consigliere da família".
Ele disse ainda ter "conhecimento de que Bumlai sempre prestou grandes
serviços ao ex-presidente".
O empresário foi
preso pela Lava Jato sob suspeita de envolvimento com desvios na compra de uma
sonda pela Petrobras. Na delação, Delcídio afirmou que o valor desviado não foi
usado apenas para quitar uma dívida de Bumlai com o Banco Schahin, como
acreditavam os investigadores, mas também para pagar dívidas da campanha de
Lula em 2006.
Lula e Marcos
Valério
Delcídio também
confessou que mediou uma promessa de Paulo Okamoto, atual presidente do
Instituto Lula, de repassar 220 milhões de reais ao empresário Marcos Valério
em troca de silêncio nas investigações do mensalão, há dez anos.
Segundo o senador,
em 14 de fevereiro de 2016, houve uma reunião em Brasília com Valério e seu
ex-advogado, Rogério Tolentino, para tratar do valor. Nos dois dias seguintes,
a fim de discutir o assunto, Delcídio teria se encontrado com Okamoto e o então
presidente Lula.
Nessa reunião, o
senador disse "expressamente" ao líder de governo, segundo a delação:
"Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte
[Okamoto]. Corra, presidente, senão as coisas ficarão piores do que já
estão."
Delcídio disse que
Valério recebeu o pagamento, mas não os 220 milhões de reais integrais que
foram prometidos. "De todo modo, a história mostrou a contrapartida:
Marcos Valério silenciou", afirma o acordo de delação. O empresário foi
condenado em 2012, considerado o operador do esquema do mensalão.
Mercadante
Delcídio contou
ainda que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tentou barrar sua delação
em troca de alguns favores. Como prova, o senador entregou à Procuradoria Geral
da República (PGR) gravações de conversas entre seu assessor, Eduardo Marzagão,
e o ministro, mantidas em duas reuniões em dezembro, depois da prisão de
Delcídio.
Segundo a delação,
Mercadante disse a Marzagão para o senador ter "calma e avaliar muito bem
a conduta a tomar, diante da complexidade do momento político". "A
mensagem de Aloizio Mercadante, a bem da verdade, era no sentido do depoente
(Delcídio) não procurar o Ministério Público Federal."
Após ser informado
por Marzagão que a família de Delcídio passava por problemas financeiros,
principalmente por conta das despesas com advogados, o ministro ofereceu uma
ajuda financeira "por meio de uma empresa ligada ao PT".
Segundo o
documento, Mercadante também prometeu que intercederia junto aos presidentes do
Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski, e do Senado,
Renan Calheiros, no sentido de favorecer a soltura de Delcídio.
Fonte:Terra.com
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