quarta-feira, fevereiro 24, 2016

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI: APRENDER A SER PROFESSOR


DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI:
APRENDER A SER PROFESSOR
Cleves de Oliveira Serra
Danielma da Silva Bezerra Brasileiro
                                                                             Jesiâne Lopes da Silva
                                                                   João Ferreira de Matos Filho




Síntese apresentada à disciplina de Docência Universitária e Educação Básica, Programa de Pós-Graduação stricto sensu Mestrado Profissional em Educação e Diversidade (MPED), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Departamento de Ciências Humanas (DCH), Campus IV, Jacobina-BA.

Docentes: Márcea Sales e João Rocha

 Um dos desafios para a aprendizagem na educação no século XXI é romper com o ensino mnemônico, descritivo e descontextualizado, e isso implica em transformações nos processos de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada na Tailândia, em 1990, foram definidos quatro pilares da educação: Aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser.
Para Celson Antunes (2010, s/p)
A educação mundial precisa de pilares e precisa dos quatro. Nossa escola não pode adiá-los, e é em nossas aulas que precisam se tornar frequentes. Não importa a ordem de sua apresentação, menos ainda importa qual a prioridade sobre por qual começar.


Contudo, como explica o autor, o ensino tradicional se apoia apenas em um dos pilares: aprender a conhecer, e em menor escala, no aprender a fazer. Os outros dois são negligenciados, ou são subentendidos como prolongamentos naturais dos dois primeiros. Assim, a escola, instância primeira de educação sistematizada, cumpre o dever de repassar conteúdos e cumprir sua grade curricular, em muitos espaços escolares, tornando os alunos e professores meros reprodutores de políticas que visam alienar, cansar o individuo, desprezando suas potencialidades, tornando a escola um espaço técnico e mecanicista.

Há que se repensar um novo tempo em que intelecto e espírito, razão e emoção se integram como parâmetro na busca de um novo paradigma para a existência humana, reconsolidando as potencialidades pessoais, as exigências das relações sociais. A ludicidade, entendida como mecanismo da subjetividade, afetividade, dos valores e sentimentos, portanto, da emoção, deverá estar junto na ação humana, tanto quanto a razão (SANTOS, 2001.p.112).


Para dar respostas ao conjunto das suas missões impostas à educação, a mesma deve organizar-se em torno desses quatro pilares de aprendizagens, que na verdade, constituem-se em apenas um, dado que existem pontos de interligação entre eles. Perceber-se que são objetivos que vão além do conhecimento intelectual, pois contempla toda a formação humana e social da pessoa. Não podem ser atingidas com um ensino fragmentado, conteudista e estereotipado. Exigem outra visão de educação. Para Jaques Delores (2012) a educação deve reinventar-se como uma experiência global a ser concretizada ao longo de toda a vida, tanto no plano cognitivo quanto no prático.
Nesse contexto, para Guiomar Mello (2004) o grande desafio da educação básica é qualitativo. Deste modo, ressalta que é preciso dar um novo sentido ao papel do professor e rever sua formação, afinal, os professores têm necessidades básicas de aprendizagem, eles precisam constituir competências para continuar aprendendo ao longo de sua vida produtiva.
Nessa direção, pretendemos neste texto discutir sobre os desafios de aprender a ser professor. Esta aprendizagem está alicerçada nas outras três, pois entende-se que a educação deve propor como uma de suas finalidades essenciais o desenvolvimento integral do indivíduo: espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Uma educação de valores e atitudes voltada para formar indivíduos autônomos, capazes de estabelecer relações interpessoais e evoluir permanentemente, intervindo de forma consciente e proativa na sociedade.

Aprender a ser professor
A formação do professor tem sido a bandeira levantada por muitos estudiosos e está presente até nos palanques eleitorais como forma de garantir a melhoria da qualidade da educação brasileira. Vale ressaltar a valorização da atividade docente, como momento de construção de conhecimento - reflexão na ação - e da pesquisa na ação dos profissionais, com a efetivação do professor pesquisador, ganhando força assim, a formação contínua na escola articulada com a universidade, ultrapassando a visão que se tinha de formação permanente.
Para Mello (2004), a falta de qualidade na formação docente no Brasil exige uma reforma da educação básica capaz de reformular a teoria e prática da formação de professores, para tanto, é preciso dar prioridade à formação de professores no âmbito da política de educação básica, estabelecer o perfil de professores que a reforma necessita para chegar à sala de aula e rever ou reinventar as agências formadoras existentes.
Desde a década de 1990, os sistemas de ensino vêm passando por processos de reforma educacional visando à democratização do acesso e melhoria da qualidade da educação básica. Com a promulgação da Lei 9.394/96, iniciou-se uma nova etapa de reforma. A nova LDB prescreveu um paradigma curricular no qual os conteúdos de ensino deixam de ter importância em si mesmo e são entendidos como meios para produzir aprendizagens significativas, o que passou a exigir uma nova formação docente baseado na construção de competências.
Assim, este paradigma questiona o modelo disciplinarista que repousa sobre a divisão das licenciaturas no ensino superior, bem como, a formação de professores para a educação básica que vem sendo realizada com significativo aporte das instituições do setor privado. Essa questão é apontada por Dermeval Saviani (1988) como um dos problemas da escola pública, já que os professores, na sua maioria, são formados em instituições privadas de nível superior onde os cursos raramente passam por avaliação posterior da aprendizagem dos estudantes, portanto, não são aferidas pelas competências necessárias para se tornar professor da educação básica. Além disso, Júlio Pereira (1998), afirma que nas recentes políticas educacionais, a formação de professores corre sérios riscos de improvisação, aligeiramento e desregulamentação.
Nessa perspectiva, para Mello (2004, p.78) “a formação inicial de professores constitui o ponto nevrálgico, a partir do qual é possível reverter à qualidade da educação como um todo.” Para tanto, a mudança nos cursos de formação inicial de professores deverá corresponder aos princípios que orientam a reforma da educação básica: a interdisciplinaridade, a transversalidade, a contextualização e a integração de áreas em projetos de ensino, que favoreçam aos futuros professores a constituição das competências docentes.
Nesse processo de formação em exercício, o professor constrói sua identidade profissional tendo a reflexão como aspecto crucial, fazendo emergir o profissional reflexivo entendido como aquele que sabe como suas competências são constituídas, que é capaz de entender sua própria decisão, mobilizando para isso os conhecimentos.
Entendemos que o desafio de aprender a ser professor exige uma formação profissional capaz de proporcionar a construção da sua própria identidade, a aprender o sentido ético da profissão docente, a respeitar a identidade dos alunos e aprimorar seu desenvolvimento profissional. A escola é o contexto privilegiado dessa formação, o lugar para continuar aprendendo a desenvolver-se profissionalmente. Para Antônio Nóvoa (2002) “a formação docente é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola como lugar de formação continuada.”
Diante do cenário atual, os professores passam a ser vistos como elementos essenciais, na realização da complexa tarefa de reconstrução e atualização das escolas, para atender com eficiência as necessidades dos alunos e o modelo de sociedade que por hora se apresenta. Assim, são inúmeras as expectativas depositadas no professor: quanto às características pessoais o professor deste século deverá acolher a diversidade; quanto à formação intelectual, deverá ter sólida formação científica e cultural e quanto ao estilo cognitivo e prático, necessitará saber refletir sobre o que faz para melhorar sua prática. Desse modo, duas perspectivas definem um professor competente: o caráter reflexivo e a dimensão da pesquisa no ofício docente.
Ortega citado por Mello (2004, p.103):
É o professor, a partir de seu próprio sistema de ideias e crenças sobre a educação que reinterpretará a proposta de reforma, tomará decisões sobre ela e a traduzirá, assimilando-a aos seus próprios sistemas de pensamento e ação para pô-la em prática.

Assim, o papel dos professores apresenta-se como determinante e crucial para alcançar uma educação de qualidade e a formação desses profissionais como um ponto nevrálgico de toda a reforma de ensino.


REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. A prática dos quatro pilares da educação na sala de aula. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010.

DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez.

MELO, Guiomar Namo de. Educação Escolar Brasileira: o que trouxemos do século XX? p. 89-95. Porto Alegre: Artmed, 2004.

NÓVOA, Antônio. Formação de professores e trabalho pedagógico. Lis Boa- Portugal: Educa, 2002.

PERREIRA, Júlio Emílio Diníz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. Belo Horizonte – MG: Autêntica,1998.

SAVIANI, Dermeval. Política e Educação no Brasil. São Paulo-SP: Cortês, 1988.

SANTOS, Santa Marli Pires. (Org.) Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis. Vozes. 2000.


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