DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
DO SÉCULO XXI:
APRENDER A SER
PROFESSOR
Cleves de Oliveira Serra
Danielma da Silva Bezerra Brasileiro
Jesiâne Lopes da Silva
João Ferreira de Matos Filho
Síntese apresentada à disciplina de Docência Universitária e Educação Básica, Programa de
Pós-Graduação stricto sensu Mestrado Profissional em Educação e Diversidade
(MPED), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Departamento de Ciências
Humanas (DCH), Campus IV, Jacobina-BA.
Docentes: Márcea
Sales e João Rocha
Um
dos desafios para a aprendizagem na educação no século XXI é romper com o
ensino mnemônico, descritivo e descontextualizado, e isso implica em
transformações nos processos de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, a Conferência
Mundial de Educação para Todos, realizada na Tailândia, em 1990, foram
definidos quatro pilares da educação: Aprender a conhecer; aprender a fazer;
aprender a conviver e aprender a ser.
Para
Celson Antunes (2010, s/p)
A
educação mundial precisa de pilares e precisa dos quatro. Nossa escola não pode
adiá-los, e é em nossas aulas que precisam se tornar frequentes. Não importa a
ordem de sua apresentação, menos ainda importa qual a prioridade sobre por qual
começar.
Contudo, como explica o
autor, o ensino tradicional se apoia apenas em um dos pilares: aprender a
conhecer, e em menor escala, no aprender a fazer. Os outros dois são
negligenciados, ou são subentendidos como prolongamentos naturais dos dois
primeiros. Assim, a escola, instância primeira de educação
sistematizada, cumpre o dever de repassar conteúdos e cumprir sua grade
curricular, em muitos espaços escolares, tornando os alunos e professores meros
reprodutores de políticas que visam alienar, cansar o individuo, desprezando
suas potencialidades, tornando a escola um espaço técnico e mecanicista.
Há que se repensar um
novo tempo em que intelecto e espírito, razão e emoção se integram como
parâmetro na busca de um novo paradigma para a existência humana,
reconsolidando as potencialidades pessoais, as exigências das relações sociais.
A ludicidade, entendida como mecanismo da subjetividade, afetividade, dos
valores e sentimentos, portanto, da emoção, deverá estar junto na ação humana,
tanto quanto a razão (SANTOS, 2001.p.112).
Para
dar respostas ao conjunto das suas missões impostas à educação, a mesma deve
organizar-se em torno desses quatro pilares de aprendizagens, que na verdade, constituem-se
em apenas um, dado que existem pontos de interligação entre eles. Perceber-se
que são objetivos que vão além do conhecimento intelectual, pois contempla toda
a formação humana e social da pessoa. Não podem ser atingidas com um ensino
fragmentado, conteudista e estereotipado. Exigem outra visão de educação. Para Jaques
Delores (2012) a educação deve reinventar-se como uma experiência global a ser
concretizada ao longo de toda a vida, tanto no plano cognitivo quanto no
prático.
Nesse
contexto, para Guiomar Mello (2004) o grande desafio da educação básica é
qualitativo. Deste modo, ressalta que é preciso dar um novo sentido ao papel do
professor e rever sua formação, afinal, os professores têm necessidades básicas
de aprendizagem, eles precisam constituir competências para continuar
aprendendo ao longo de sua vida produtiva.
Nessa direção, pretendemos neste texto discutir sobre os
desafios de aprender a ser professor. Esta aprendizagem está alicerçada nas
outras três, pois entende-se que a educação deve propor como uma de suas
finalidades essenciais o desenvolvimento integral do indivíduo: espírito e
corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e
espiritualidade. Uma educação de valores e atitudes voltada para formar
indivíduos autônomos, capazes de estabelecer relações interpessoais e evoluir
permanentemente, intervindo de forma consciente e proativa na sociedade.
Aprender a ser professor
A formação do professor tem sido a bandeira levantada por muitos
estudiosos e está presente até nos palanques eleitorais como forma de garantir
a melhoria da qualidade da educação brasileira. Vale ressaltar a valorização da
atividade docente, como momento de construção de conhecimento - reflexão na
ação - e da pesquisa na ação dos profissionais, com a efetivação do professor
pesquisador, ganhando força assim, a formação contínua na escola articulada com
a universidade, ultrapassando a visão que se tinha de formação permanente.
Para Mello (2004), a falta
de qualidade na formação docente no Brasil exige uma reforma da educação básica
capaz de reformular a teoria e prática da formação de professores, para tanto,
é preciso dar prioridade à formação de professores no âmbito da política de
educação básica, estabelecer o perfil de professores que a reforma necessita
para chegar à sala de aula e rever ou reinventar as agências formadoras
existentes.
Desde a década de 1990,
os sistemas de ensino vêm passando por processos de reforma educacional visando
à democratização do acesso e melhoria da qualidade da educação básica. Com a
promulgação da Lei 9.394/96, iniciou-se uma nova etapa de reforma. A nova LDB prescreveu
um paradigma curricular no qual os conteúdos de ensino deixam de ter
importância em si mesmo e são entendidos como meios para produzir aprendizagens
significativas, o que passou a exigir uma nova formação docente baseado na
construção de competências.
Assim, este paradigma
questiona o modelo disciplinarista que repousa sobre a divisão das licenciaturas
no ensino superior, bem como, a formação de professores para a educação básica que
vem sendo realizada com significativo aporte das instituições do setor privado.
Essa questão é apontada por Dermeval Saviani (1988) como um dos problemas da
escola pública, já que os professores, na sua maioria, são formados em
instituições privadas de nível superior onde os cursos raramente passam por
avaliação posterior da aprendizagem dos estudantes, portanto, não são aferidas
pelas competências necessárias para se tornar professor da educação básica. Além
disso, Júlio Pereira (1998), afirma que nas recentes políticas educacionais, a
formação de professores corre sérios riscos de improvisação, aligeiramento e
desregulamentação.
Nessa perspectiva, para
Mello (2004, p.78) “a formação inicial de professores constitui o ponto
nevrálgico, a partir do qual é possível reverter à qualidade da educação como
um todo.” Para tanto, a mudança nos cursos de formação inicial de professores
deverá corresponder aos princípios que orientam a reforma da educação básica: a
interdisciplinaridade, a transversalidade, a contextualização e a integração de
áreas em projetos de ensino, que favoreçam aos futuros professores a
constituição das competências docentes.
Nesse processo de
formação em exercício, o professor constrói sua identidade profissional tendo a
reflexão como aspecto crucial, fazendo emergir o profissional reflexivo
entendido como aquele que sabe como suas competências são constituídas, que é
capaz de entender sua própria decisão, mobilizando para isso os conhecimentos.
Entendemos que o
desafio de aprender a ser professor exige uma formação profissional capaz de proporcionar
a construção da sua própria identidade, a aprender o sentido ético da profissão
docente, a respeitar a identidade dos alunos e aprimorar seu desenvolvimento
profissional. A escola é o contexto privilegiado dessa formação, o lugar para
continuar aprendendo a desenvolver-se profissionalmente. Para Antônio Nóvoa
(2002) “a formação docente é essencial e se concentra em dois pilares: a
própria pessoa, como agente, e a escola como lugar de formação continuada.”
Diante
do cenário atual, os professores passam a ser vistos como elementos essenciais,
na realização da complexa tarefa de reconstrução e atualização das escolas,
para atender com eficiência as necessidades dos alunos e o modelo de sociedade
que por hora se apresenta. Assim, são inúmeras as expectativas depositadas no
professor: quanto às características pessoais o professor deste século deverá
acolher a diversidade; quanto à formação intelectual, deverá ter sólida
formação científica e cultural e quanto ao estilo cognitivo e prático, necessitará
saber refletir sobre o que faz para melhorar sua prática. Desse modo, duas
perspectivas definem um professor competente: o caráter reflexivo e a dimensão
da pesquisa no ofício docente.
Ortega
citado por Mello (2004, p.103):
É o professor, a
partir de seu próprio sistema de ideias e crenças sobre a educação que
reinterpretará a proposta de reforma, tomará decisões sobre ela e a traduzirá,
assimilando-a aos seus próprios sistemas de pensamento e ação para pô-la em
prática.
Assim,
o papel dos professores apresenta-se como determinante e crucial para alcançar
uma educação de qualidade e a formação desses profissionais como um ponto
nevrálgico de toda a reforma de ensino.
REFERÊNCIAS
ANTUNES,
Celso. A prática dos quatro pilares da
educação na sala de aula. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010.
DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir.
São Paulo: Cortez.
MELO,
Guiomar Namo de. Educação Escolar
Brasileira: o que trouxemos do século XX? p. 89-95. Porto Alegre: Artmed,
2004.
NÓVOA,
Antônio. Formação de professores e
trabalho pedagógico. Lis Boa- Portugal: Educa, 2002.
PERREIRA,
Júlio Emílio Diníz. As licenciaturas e
as novas políticas educacionais para a formação docente. Belo Horizonte –
MG: Autêntica,1998.
SAVIANI,
Dermeval. Política e Educação no Brasil.
São Paulo-SP: Cortês, 1988.
SANTOS, Santa
Marli Pires. (Org.) Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis.
Vozes. 2000.
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