sexta-feira, outubro 14, 2016

A ÁGUIA E A GALINHA

Não se trata de um tratado veterinário sobre
as duas aves, mas sim uma parábola que pode
ser transposta a condição humana. Fala sobre a
influência do meio em que vivemos e da nossa
necessidade em buscar forças para dar a volta
por cima e superar dificuldades em nós mesmos.
Leia (ou releia) a historinha abaixo e lembre-se
que existe uma águia dentro de nós. Daquelas
que não desistem facilmente das coisas por conta das agruras da vida.
Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo
em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei / rainha de todos os passáros.

Depois de cinco anos, este homem recebeu a visita de um naturalista. Enquanto
passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Este pássaro aí não é uma galinha. É uma águia. - De fato, - disse o camponês. É águia.
Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as
outras, apesar das asas de quase três metros de extensão. - Não - retrucou o naturalista. Ela
é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar
às alturas. - Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e
desafiando-a disse:
- Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra
suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor.
Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! - Não - tornou a
insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. 
Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe: - Águia,
já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto
delas. O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha! - Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é
águia, possuirá sempre um coração de águia.
Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia,
levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O
sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia,
já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então
o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem
encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias
e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez
para mais alto. Voou… Voou… Até confundir-se com o azul do firmamento.
Leonardo Boff Extraído do livro: A águia e a galinha de Leonardo Boff (1986). 

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